
A engenhosa ideia de Henry Ford
KPTL
No começo dos anos 1930, o empresário Henry Ford tinha um problema em suas mãos: em meio a uma crise generalizada nos EUA, brigas com cartéis e racionamento de aço, ele precisava encontrar uma forma alternativa para continuar produzindo seus carros a um preço acessível. Uma de suas saídas foi olhar para o campo, partindo de materiais como soja, trigo, milho e cânhamo para imaginar um automóvel feito de “plástico agrícola”. Após anos de pesquisa e financiamento, Ford apresentou ao público em 1941 o Soybean Car, um carro-conceito que era uma tonelada mais leve que os veículos da época e, se produzido em massa, ajudaria o país a economizar cerca de 10% de sua produção total de aço. E mais: o bólido rodaria com combustível também gerado a partir da queima do cânhamo.
Imagem do “Soybean Car” retirada do acervo do The Henry Ford Foundation.
Os planos de Ford, naquela altura com mais de 70 anos, não eram exatamente isolados: eles se baseavam na “quimurgia”, uma área da agroquímica que pode ser considerada uma espécie de avó da bioeconomia – como mostra um recente artigo publicado pela Universidade de Cambridge. Estabelecida por volta dos anos 1920, a quimurgia (ou “chemurgy”, em inglês) andava bastante em voga naqueles tempos bicudos – em especial, no Sul dos Estados Unidos, região que sofria, mesmo depois de décadas, com os estragos da Guerra Civil Americana em meados do século XIX.
Considerado o “pai da quimurgia”, o cientista George W. Carver via a transformação de recursos agrícolas em produtos industriais como uma forma de ajudar a população negra da região a superar sua situação de extrema pobreza. Nascido como escravo no Missouri, bem durante a Guerra de Secessão (1861-1865), Carver se tornou conhecido no começo do século XX por criar novos usos para amendoim e batata-doce, incluindo melaço, vinagre e até graxa para sapatos.
Retrato restaurado de George W. Carver.
Ele também fazia tinta a partir de cerâmica, usada em pinturas que ele mesmo criava – a polivalência fez o cientista ser chamado de “Leonardo da Vinci negro” pela revista Time, a bíblia dos magazines durante décadas, em 1941. “Use de tudo. Do que você tem, você fará o que quer”, disse o polímata à publicação na época, em um slogan que não faria feio como explicação da bioeconomia moderna.
Aliás, a primeira definição oficial de “bioeconomia”, vale dizer, só surgiria décadas depois: em 2012, quando a Comissão Europeia definiu a área como “a produção de recursos biológicos renováveis e a transformação desses recursos (e seus descartes) em produtos de valor agregado como comida, fertilizantes e combustíveis”.
Já o carro de soja da Ford não foi adiante, é bom a gente lembrar, porque com a entrada dos EUA na Segunda Guerra Mundial, a produção de veículos no país foi paralisada. Daí, quando o conflito acabou, Henry Ford já vivia seus últimos anos e a economia e geopolítica global já haviam se reconfigurado de tal forma que o petróleo se tornou dominante. E não é à toa que essa conversa é retomada lá nos anos 1970: com as duas crises do petróleo, o mundo começa a se dar conta de que não pode depender só dessa matriz, o que leva à criação de programas como o nosso Pró-Álcool – sim, um pioneiro exemplo de bioeconomia verde-amarelo.
Mas afinal: por que estamos tratando disso na newsletter da KPTL?
Porque é preciso. É necessário. E porque está no centro de nossos valores.
Nessa retomada de nossa news, que você vai receber todo mês, para nós é claro que a avó da bioeconomia tem muito a ver com o que fazemos por aqui: a busca por inovação que transforma realidades, gerando valor para sociedade e riqueza para o maior número de pessoas.
Decidimos também que era hora de voltar a esta newsletter porque há muitas boas histórias para contar depois de um movimento sísmico como foi a pandemia. Estamos num mundo novo, em que as pessoas têm novas prioridades, o trânsito aparece em novos horários e as cidades se movimentam de maneira diferente – até mesmo o happy hour mudou de dia, não é mesmo? (Aliás, por falar em happy hour, essa história do Henry Ford e o carro de soja é uma trivia boa pra quando você ficar sem assunto…)
Vamos nessa?
1 pergunta para 3…
Para você, como 2024 será diferente de 2023?
“Em 2024, vamos ver a inovação e seus ritos de gestão “saírem da adolescência”. Depois de muitas aventuras, tentativas e erros – o que é natural no processo inovativo – acredito que vamos começar a observar algumas evoluções importantes, advindas de um olhar mais pragmático das lideranças para o tema. O processo de inovação aberta ganhará mais amplitude e novas conexões, como as parcerias Corp2Corp, deverão ser mais frequentes. Com o quase final de um primeiro ciclo de investimentos de CVC no Brasil, o choque de realidade quanto a complexidade da prática gerar valor estratégico que a sustente corporativamente abrirá mais espaço para fundos multi-corporativos e setoriais, para o venture building e maior aproximação das grandes empresas às deeptechs.”
Bruno Moreira, fundador e presidente do conselho da consultoria Inventta.
“2023 era sobre a parte final do ciclo inflacionário e de alta de juros, e todas as consequências que vinham disso, como ficou muito claro na quebra do Silicon Valley Bank, em março. 2024 é sobre a virada do ciclo: a inflação está caindo de volta aos patamares pré-pandemia e a maioria dos bancos centrais do mundo vai se juntar ao Banco Central brasileiro e começar a cortar juros. O ano tende a ser menos emocionante e volátil, e de uma maneira positiva, mais ‘normal’.”
Luiz Parreiras, sócio e gestor da Verde Asset Management.
“2023 foi uma ano de poucos avanços nas temáticas de diversidade e inclusão. Muitas empresas que já estavam avançadas na agenda diminuíram os investimentos nas estratégias, desfazendo áreas de DE&I, por exemplo. Em 2024 precisamos nos manter em alerta e resistir, assim como viemos fazendo em anos que não éramos nem assunto em discussão. Temos força e ativismo para isso, só não podemos relaxar.”
Carolina Ignarra, CEO e fundadora do grupo Talento Incluir


