26 setembro 2025 - 13 min de leitura

A descarbonização é um ato verde

KPTL

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Vamos fazer uma brincadeira. Mas à moda antiga. Então, pegue um lápis, destaque uma folha do caderninho e, juntos, vamos responder essas perguntas. Mas calma… Não se trata de um exame de proficiência em inglês, como um TOEFL ou Cambridge, é mais conhecimentos gerais… E lógica, claro. Está pronto? Então, vamos!

  1. Como estamos à porta da Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima de 2025, a COP30, marcada para acontecer em Belém (PA), entre 10 e 21 de novembro próximo, qual seria a cor mais apropriada para figurar no imaginário de um combate à carbonização do planeta?
  2. Qual é a coloração associada à esperança?
  3. Em 2009, jovens iranianos usaram uma cor para protestar contra os resultados das eleições no país. Que cor foi essa?

Agora, de bate-pronto: Qual é a cor do time mais vencedor dos últimos anos no futebol brasileiro? 😉

(hahahaha). Acertou, quem respondeu a todas as questões acima com o verbete: VERDE!

Cor da moda. Símbolo da esperança. Onda de entusiasmo. E, apesar do domínio palestrino – se acalmem palmeirenses -, o verde aqui tem outra destinação: economia. Green economy!

Ao longo de nossas edições, temos reiteradamente falado sobre descarbonização. Mas o tema é amplo. E merece muitos olhares de diferentes perspectivas.

Não, não é um déjà vu (gostou do meu francês?). Desta vez, vamos escarafunchar algumas das principais formas de des-car-bo-ni-za-ção. Portanto, respire fundo e venha comigo.

Floresta Amazônica.

Mas antes, um contexto. O assunto é tão importante, que vou lhe colocar por dentro, sacando do bolso uma numeralha de respeito.

O MUNDO, sim, o mundo, emitiu mais de 37,4 bilhões de toneladas de gás carbônico (CO₂) em 2024. Um r-e-c-o-r-d-e absoluto, segundo estimativas do Global Carbon Project. Se a gente incluir nessa continha as emissões de desmatamento e mudanças no uso da terra, chegamos a 41,6 bilhões de toneladas, um aumento de 2,5% em relação ao ano anterior, 2023. Me intoxiquei só de escrever isso aqui!

A boa notícia – sempre há – é que não faltam caminhos para atacar esse desafio.

Alguns vêm da natureza, como o carbono azul estocado nos oceanos e nas costas. Ca-ca–ca-calma. Não era verde?!? Sim, mas ao final, tudo ficará claro.

Outras soluções surgem de manguezais, verdadeiros cofres de carbono. Outros vêm da inovação tecnológica, como a substituição das velhas tecnologias cinzas das estações de tratamento de esgoto.

Ah, o cardápio também inclui também eletrificação, hidrogênio verde, energias renováveis e projetos de captura de carbono. A lista é extensa, mas o recado é simples: se quisermos reduzir emissões em escala, não tem “lero lero nem vem cá que também quero”. É tomar coragem e agir. Agora!

E o Brasil, hein? Ficamos como nesse convescote? Ficamos!

Em 2023, o País emitiu 2,3 bilhões de toneladas de gás carbônico. Isso representa uma redução de 12% em relação a 2022, quando mandou literalmente para os ares 2,6 bilhões de toneladas, segundo dados divulgados em novembro do ano passado pelo Observatório do Clima. Foi a maior queda percentual nas emissões desde 2009, quando a Terra Brasilis registrou a menor emissão da série histórica iniciada em 1990. Massss queeeeee golaaaaaaççççço!

“Temos feito nossa lição de casa. Mas o caminho é longo e não é simples. E exige, além de recursos financeiros, comprometimento”, afirma Renato Ramalho, CEO da gestora de fundos de venture capital KPTL.

Renato Ramalho, CEO da KPTL. (Foto: Gil Silva)

Fato. Agora, mesmo que o avanço seja lento e não regrida, o lado bom é que temos boas condições para reforçar ações desse tipo.

“O Brasil tem vantagens competitivas e comparativas únicas para ser protagonista na transição para uma economia de baixo carbono com uma matriz elétrica majoritariamente renovável, biodiversidade abundante e capacidade de produção agrícola tecnificada”, afirma Marcelo Furtado, Diretor-Executivo do Instituto Itausa e head de sustentabilidade da Itausa (mais abaixo, dê uma espiada na seção “3 Perguntas” para saber mais).

Marcelo Furtado, Diretor-Executivo do Instituto Itausa e head de sustentabilidade da Itausa. (Foto: Divulgação)

Na Prática I

Existem empresas e startups brasileiras que estão fazendo a lição de casa nessa área, com soluções que, direta ou indiretamente, ajudam no processo de descarbonização.

Uma delas é a i4Sea. Fundada em 2016 por oceanógrafos, em Salvador (BA), a i4Sea é especialista em inteligência climática. A empresa, que hoje tem 19 funcionários e atende 21 clientes, desenvolveu mais de mil alertas customizados para setores que vão de energia eólica offshore à cabotagem amazônica. O software da empresa emite alertas de seca, ondas de calor, enchentes, tempestades…

Tá, mas o que isso tem a ver com descarbonização? Com a palavra, Mateus Lima, CEO da i4sea. “Ao anteciparmos janelas de operação, é possível otimizar o consumo de recursos que emitem gás de efeito estufa”, afirma Lima.

Mateus Lima, CEO da i4sea. (Foto: Divulgação)

Hummmmm! Inteligente (em espanhol), hein?!?

Em outras palavras: ao prever o que pode dar errado, a empresa ajuda seus clientes a gastar menos combustível, energia e recursos, o que, de quebra, ajuda a reduzir emissões. Outros pontos são a mitigação e adaptação, áreas em que a i4Sea atua. “A mitigação está diretamente ligada à descarbonização. A adaptação está associada à resiliência, algo tão importante quanto, pois o clima já mudou”, reforça.

Para acelerar essa trajetória, a startup baiana recebeu um aporte de R$ 7,5 milhões do Fundo GovTech, gerido pela KPTL e pela Cedro.

Na Prática II

Se a i4Sea fecha a defesa para evitar bola nas costas na área climática, a Future Climate atua no ataque, deixando o centroavante na cara do gol.

A companhia funciona como uma consultoria para projetos com foco em descarbonização. E a empresa anda fazendo bonito, viu? Além de São Paulo (SP), já tem escritórios em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, e em Londres, Reino Unido.

O trabalho da Future Climate vai da criação ao desenvolvimento do projeto, incluindo a aprovação da certificação. “Nosso driver é trazer o carbono para o balanço das empresas. Com a regulação do mercado brasileiro, o carbono vai impactar as margens: ou otimiza ou reduz. E nosso papel é ajudar a maximizar valor”, diz Fábio Galindo, CEO da Future Climate. Com 55 colaboradores, a empresa deverá registrar um crescimento próximo de 30%.

Fabio Galindo, CEO da Future Climate. (Foto: Divulgação)

Na Prática III

Saneamento básico não costuma aparecer em discursos glamourosos sobre clima, mas deveria. O setor também tem como contribuir com a agenda de descarbonização. A Aegea, uma das maiores empresas desse segmento no País, decidiu entrar de cabeça nessa luta criando a área de Engenharia de Baixo Carbono. O setor atua de forma transversal, dialogando com todos os demais departamentos da empresa, e desenvolve estudos de emissão dentro da companhia, com aplicações práticas das análises.

Estação de tratamento de esgosto.

“Nos últimos três anos, a empresa tem estudado a pegada de carbono do seu negócio, verificando onde ocorrem as emissões por meio da elaboração de um inventário de gases de efeito estufa, abordando todas as categorias que são responsáveis pela emissão direta da Aegea”, disse Laís Regis Salvino, especialista em Gestão de Carbono e Lodo da Aegea, em matéria no site da Aegea.

Além disso, a empresa mantém o Instituto Aegea, seu braço de sustentabilidade e ESG, que leva esse olhar para projetos locais, conectando saneamento com desenvolvimento sustentável. Traduzindo: menos cheiro ruim, clima bom.

Na Prática IV

Como o cantor, compositor e líder do movimento Manguebeat, Chico Science, já dizia:

🎶 “Tô enfiado na lama/É um bairro sujo/Onde os urubus têm casas/E eu não tenho asas”. 🎶

Não é do mangue que também pinta soluções para descarbonização?!? Pois é. Os mangues são um tesouro da captura de carbono, my friend.

Mangue.

Mangrove Breakthrough que o diga. Não se trata de uma nova banda do Recife (PE), mas sim de uma iniciativa global que tem o objetivo de estimular investimentos de governos e setor privado em defesa dos mangues. E por quê? Dë um look na explicação da Mangrove Breakthrough:

“A capacidade dos manguezais de fornecer alimentos, proteção contra condições climáticas extremas e meios de subsistência, ao mesmo tempo em que abrigam uma biodiversidade incrível, criam resiliência costeira e atuam como imensos sumidouros de carbono, faz da conservação e restauração dos manguezais uma estratégia eficaz para termos em nosso arsenal para combater as mudanças climáticas e a crise da biodiversidade”.

Em outras palavras, Chico Science tinha toda razão.

A iniciativa da Mangrove pretende captar, no mercado global, US$ 4 bilhões até 2030 para financiar ações de proteção e restauro de 15 milhões de hectares de manguezais no planeta, uma vez que esses ecossistemas são eficientes no armazenamento de carbono. E o Brasil, está como? Está no embalo do Mangrove Breakthrough! Porque o Ministério do Meio Ambiente já anunciou adesão ao projeto.

Moral da história? Não existe bala de prata para descarbonizar. O que há, é um arsenal em franco desenvolvimento, que vai de estratégias para substituir tecnologias cinzas a projetos de proteção aos manguezais. Cada um desses caminhos mostra que o desafio climático pode até ser gigantesco, mas também abre espaço para inovação, impacto social e, claro, business.

“Não existe Plano B, porque não existe Planeta B!”

Ban Ki-moon, ex-Secretário Geral das Nações Unidas (ONU)

3 perguntas para…

Marcelo Furtado

Diretor-executivo do Instituto Itaúsa e Head de Sustentabilidade da Itaúsa, é engenheiro químico com mestrado em Energias Renováveis, tem mais de três décadas de atuação em organizações da sociedade civil e filantropia socioambiental e foi diretor-executivo do Greenpeace Brasil.

Marcelo Furtado, Diretor-Executivo do Instituto Itausa e head de sustentabilidade da Itausa. (Foto: Divulgação)

1) Com a COP30 se aproximando e colocando o Brasil no centro das discussões globais sobre clima, que avanços concretos em descarbonização você espera ver liderados pelas empresas brasileiras?

A COP30 foi estruturada em três grandes eixos: negociação, mobilização e implementação. No campo da negociação, um tema fundamental para a descarbonização no Brasil é o Artigo 6 do Acordo de Paris, em especial os mecanismos 6.2 e 6.4, que permitem ao País conectar um mercado de carbono regulado nacional a mercados internacionais, ampliando acesso a recursos para a descarbonização. Mas, considerando o momento geopolítico, acredito que o eixo mais estratégico para o Brasil é o da implementação. É nele que temos a oportunidade de mostrar ao mundo que o País é um provedor de soluções climáticas: um portfólio robusto de iniciativas que não apenas entregam descarbonização, mas também fortalecem a agenda da adaptação e a resiliência da nossa economia, gerando emprego, renda e impacto positivo de longo prazo. E foi justamente com esse foco em soluções que direcionamos nossos esforços para a criação da CASE — Climate Action Solutions and Engagement, ou, em português, Clima, Ação, Soluções e Engajamento. A CASE nasceu para promover essa agenda positiva, conectando empresas, organizações e parceiros em torno de soluções concretas que já estão sendo implementadas no Brasil e que podem ganhar escala.

2) A descarbonização é um dos grandes desafios do setor privado. Como a Amazônia+21 / CNI estruturou sua estratégia para contribuir de forma efetiva nesse processo?

A área de Sustentabilidade da Itaúsa está estruturada em dois eixos principais: Inteligência de Sustentabilidade e o Instituto Itaúsa. O eixo de Inteligência de Sustentabilidade atua em duas frentes: no olhar para o portfólio, garantindo a integridade da agenda ESG das investidas por meio de um conjunto amplo de indicadores — que abrange descarbonização, natureza, direitos humanos e governança — e no olhar para novos negócios, aplicando uma lente de sustentabilidade na análise de oportunidades de investimento. Atualmente, esse trabalho também inclui a preparação das informações de sustentabilidade alinhadas com as normas IFRS S1 e S2 de transição climática, reforçando nossa governança e transparência. Já o Instituto Itaúsa é responsável por articular e implementar projetos e parcerias iniciativas com impacto socioambiental e econômico. Esses projetos não apenas geram inteligência e dados que retroalimentam o eixo de Inteligência de Sustentabilidade — fortalecendo indicadores, leitura de mercado e identificação de riscos e oportunidades —, como também contribuem diretamente para a construção de uma economia de maior produtividade, positiva para o clima, para a natureza e para as pessoas, em linha com o nosso propósito de gerar valor para a sociedade e acionistas.

3) O Brasil tem vantagens competitivas para liderar a transição para uma economia de baixo carbono. Que papel as grandes empresas brasileiras podem desempenhar nesse movimento global?

O Brasil tem vantagens competitivas e comparativas únicas para protagonizar na transição para uma economia de baixo carbono com uma matriz elétrica majoritariamente renovável, biodiversidade abundante, capacidade de produção agrícola com técnica, e cada vez mais sustentável e um mercado interno e externo robusto. A incorporação dos padrões internacionais de sustentabilidade e transparência, como os da IFRS (S1 e S2), reforçam a governança e a credibilidade das grandes empresas no cenário global apoiando a implementação de planos de transição para uma economia mais sustentável integrando dimensões como natureza, direitos humanos e uso eficiente de recursos naturais, gerando ao mesmo tempo resiliência econômica, empregos e renda. Como Holding, a Itaúsa vê sua posição de alocadora de capital e articuladora de portfólio, apoiando a descarbonização de diferentes setores e acelerando a adoção de tecnologias limpas, soluções baseadas na natureza e boas práticas de gestão socioambiental. Fazemos isso com visão de longo prazo e compromisso com a geração de valor sustentável, fortalecendo empresas, ampliando impacto positivo e deixando um legado para o futuro.

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